quinta-feira, 14 de julho de 2011

Poema para as palavras


Não entendo de estética
Nem tão pouco de métrica
Não sou poeta,
Brinco de ser
Não me importa a lógica
O verbo, a posição correta
A composição simétrica
Quero a poesia
Em sua forma mais concreta
Que me afogue em águas profundas
E que me eleve além das alturas
E fico assim,
Como criança em um jardim
Brinco com as palavras
As decoro e devoro
Descubro o que são
As desconstruo
E me construo em sua nova versão
Junto todas em uma trova a toa
Que sem sentido ressoam
Não possuo a métrica
Falta-me a estética
Mas como eu já disse não sou poeta
Brinco de ser

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dica Cultural

Ai vai uma dica cultural para as férias:
Essa é para os românticos de carteirinha;
Filme: Apenas uma Vez título em inglês ONCE (com que frequencia você encontra a pessoa certa?)
Com cara de documentário este filme foi vencedor do Oscar de melhor canção em 2008, conta a história de um músico das ruas de Dublin, Irlanda, que canta suas mágoas na compania de um surrado e inseparável violão. O destino coloca em seu caminho uma moça theca, vendedora de rosas, que dá uma reviravolta em sua vida. Uma belissima historia, um conto de fadas moderno daqueles que nos fazem sonhar. As canções são simplesmente maravilhosas, uma história de amor para romanticos incuráveis.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Poema de Goethe (livro Fausto)

Usai, pois, esses belos dons sem ócio
E organizai o poético negócio
Como no amor uma aventura se prepara.
A gente encontra-se, olha, sente, pára.
E a pouco e pouco enleia-se na trama;
Surge a paixão, algo lhe obstrui a chama,
Cresce o êxtase, a dor vem de relance,
E, vede só! num ai, está pronto um romance.
Ponde espetáculo desses em cena!
Atende-vos a vida humana plena!
Cada um a vive e dela é ignorante,
E onde a pintais se torna interessante.
Multiplices visãoes e pouca claridade,
Cem ilusões e um raio de verdade,
Assim prepara-se a poção perfeita,
Que tudo, em torno, anima, atrai, deleita.
Junta-se, então, do povo a nata jovem,
Ao ouvir-vos da obra o inspirador acento;
As almas meigas se comovem
E lhe haurem melancólico alimento.
Ora isso, então, exalta-se, ora aquilo;
Vê cada um o que traz em si em sigilo.
Tão pronta a lágrima lhes vêm a risada,
Ainda honrram a impulsão, aplaudem o aparato;
Ao homem feito, já não seduz nada;
Ao que se forma há de ser sempre grato.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Essa é para quem como eu gosta de boa música, daquela inusitada, que foge das regras convencionais e que no entanto preserva as velhas formas, segue a dica:

Adele Laurie Blue Adkins, ou simplesmente Adele, dona de uma poderosa voz e um estilo que mescla as raízes do blues, jazz, soul, R&B e pop. Seu álbum 19 é um dos melhores desta inglesa que sabe exatamente a extensão de sua voz e talento. O álbum 21 também obedece aos mesmos padrões de excelência, contemporaneidade e ritmo. Músicas como “Cold Shoulder”, “Make you feel my Love” álbum 19 e “Rolling in the Deep” e “Turning Tables” falam de relacionamentos, amor, encontros e desencontros, utilizando-se de uma mistura de ritmos tornando os temas amorosos por vezes tratados com uma carga de passionalidade que cabe tão bem em seu estilo. Enfim, ouvir qualquer um destes CDs é quase como manter um dialogo entre o ouvinte e sua alma, uma extensão dos sentimentos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A montanha e o Viajante obstinado


A montanha e o viajante obstinado
Quem passava por aquela pequena cidade deparava-se com um povo simples e alegre, um povo cheio de histórias e músicas. Povo hospitaleiro, seus habitantes vinham de todas as partes do mundo, se encantavam por aquele lugar pitoresco ao pé de uma montanha, com um pequeno rio que brotava das entranhas da grande rocha e que servia de alívio para a sede daqueles habitantes. Aquele era conhecido como o povo da montanha, e como povo também tinha suas histórias, suas lendas, algumas delas tenebrosas, outras tristes e algumas até engraçadas. Porém a que mais se ouvia era a história da montanha e do viajante obstinado. Pela manhã o sol se espreguiçava por entre as costas da montanha, esticando seus braços rosados por todos os lados. Nas noites quentes o povo se reunia ao pé da montanha e ficavam ali, acendendo fogueiras, contando histórias, observando o céu estrelado que se erguia acima da montanha. A montanha era deles e eles eram dela.
Para qualquer pessoa que por ali passasse veria apenas um povoado comum, ao é de uma montanha ainda mais comum. Ledo engano, aquela não era uma montanha como todas as outras, a primeira vista ela até parecia bem comum, com o mesmo formato de todas as montanhas, com a mesma base ligeiramente arredondada, ligeiramente irregular. E um ou outro viajante mais atento podia perceber suas pequenas sutilezas, suas encostas desiguais, o limo que cobria suavemente as rochas que em gracioso acúmulo se uniam formando sua delicada e forte estrutura. Aqui e ali flores teimosas se equilibravam nas encostas íngremes. Ao longe se distinguia um murmúrio de águas corriqueiras que desciam em reboliço pelas paredes limosas de suas costas.
Aquela montanha tão igual e tão diferente tinha vontade própria, era caprichosa, teimosa, de seu cume ela observava o mundo. O mundo que apenas ela via era particular a ela, ela se orgulhava de não ter que dividi-lo com ninguém. Talvez isso a torna-se tão diferente das outras, era uma montanha com um segredo. E isso a tornava não apenas bela, a tornava única.
Um ou outro viajante, os mais atentos e curiosos, ao olhar para a montanha desejavam subir, atingir seu cume, desvendar seus segredos. No entanto ela era caprichosa demais, não permitia que ninguém chegasse ao seu topo. Por mais que tentassem, ela os derrubava, um após o outro. Fazia-se de escorregadia e traiçoeira, desviava o curso de suas águas até que os viajantes escorregassem em meio ao limo de suas paredes e despencassem em grande estrondo. Assim um por um iam caindo, se machucando, se distanciando da montanha. E ela apenas se divertia sabedora de que seu segredo, sua visão estavam seguros e permaneceriam apenas dela.
Conta a lenda do povoado que um viajante mais obstinado admirou a montanha, olhou para seu alto cume, suas pedras convidativas, suas flores delicadas, tão teimosas quanto a própria montanha e desejou desvendar os seus segredos. Começou a subir, devagar e cuidadosamente, escolhendo os lugares onde ia pisar. Não se sabe ao certo porque, mas a montanha deixou aquele forasteiro ir escalando, subindo cada vez mais. Durante um longo período o viajante subia, algumas vezes ele escorregava, retornava quase que do início, e a montanha pela primeira vês, não se ria, apenas esperava, observava com um misto de curiosidade e medo.
Muitos anos se passaram, e o viajante sempre persistente escalava, escorregava e tornava a escalar. Depois de um longo tempo, no entanto, cansado de tentar alcançar o cume apenas com suas mãos, resolveu equipar-se com martelo e pregos, botas pesadas, cordas e luvas de alpinista, ele estava obstinado, obcecado pela montanha e por seu mistério, depois de tanto tempo ele se sentia no direito de conhecer o seu segredo, de ver o que ela via. Se a montanha não o mostrava por sua própria vontade, ele iria subjugá-la, vencê-la.
Escolheu cuidadosamente, ou então sem nem um critério, um lugar para atingir a rocha, uma fenda, uma reentrância, qualquer coisa que facilitasse o seu intento. Quando finalmente o encontrou, com prego e martelo a mão uniu toda a sua força e desferiu o golpe.
Este foi o primeiro golpe que entrou na montanha, com força e ímpeto, de tal forma que pedaços de rocha de desprenderam da ferida, a montanha estremeceu, sentiu a dor lancinante, ela queria falar com ele, estremecendo sua enorme estrutura, mas o viajante não ouviu, ou não entendeu, ... Ele iria vencê-la. Golpes e mais golpes ele ia desferindo sem piedade, e a montanha que não entendia muito bem o que significava aquilo se encolhia embaixo de tamanha fúria e força. Sentia-se fraca, triste, suas flores aos poucos foram pisoteadas pelo viajante que para subir rodeava a montanha por todos os lados, sempre ferindo, oras com pregos, oras com suas pesadas botas, oras com suas próprias mãos, arrancando galhos, flores, raízes e pedras, desnudando e desfigurando a montanha.
Um dia a montanha, cansada e ferida, machucada e transformada, olhou novamente para o seu mundo particular, e pode sentir novamente a força que antes lhe era tão comum, percebeu seu tamanho, sentiu como a muito tempo não percebia o calor do sol e a suavidade da brisa, percebeu que ainda estava viva. O viajante não percebeu nada disso, ele estava muito ocupado em ferir a montanha, não percebeu que a força debaixo de seus pés crescia e que a montanha aos poucos se recuperava, se fortalecia, regenerava, desviava o curso de suas águas e tratava suas feridas.
Um dia, quando o viajante estava ocupado pensando no melhor lugar para se equilibrar a montanha se mexeu, no inicio era apenas um pequeno tremor, o suficiente apenas para pregar um susto no viajante, este sentiu o tremor, e resolveu subir com um pouco mais de cuidado. Mas a montanha estava cansada de tantos golpes de tantas feridas, buscou forças do fundo da terra, ela se sacudiu, violentamente, com força estrondosa. Suas águas antes corriqueiras e alegres tornaram-se caudalosos rios e ela empurrava com força o viajante. Ela não mais permitia que ele diferisse os golpes pesados e traiçoeiros.
O viajante obstinado percebeu que era inútil tentar lutar contra a fúria da montanha, ele precisava se refugiar encontrou uma reentrância, uma pequena caverna na parede da montanha e decidiu ficar ali até que sua fúria passasse e ele pudesse continuar sua jornada.
Não se sabe ao certo por quanto tempo ele permaneceu por ali, preso na montanha... O que se sabe somente é que ainda hoje podemos ouvir um canto que se mistura com as águas corriqueiras da montanha, um canto que lembra uma canção de ninar, e naquele pequeno povoado ao pé da montanha dizem que é o viajante obstinado tentando aplacar a fúria da montanha para novamente tentar dominá-la.

Palavras


Aos montes, borrões em minha mente
palavras,
insanas, profanas,
Quimeras sem Belerofontes...
brotam, fogem,
desespero em plena madrugada...
as sinto, vejo, percebo
vão e vêem,
como Dríades fugidias,
se escondem no profundo da alma
sedenta e faminta,
de quê?
De sonhos, ou talvez de esperanças,
sons de cristais quebrados
trini tando, despencando,
caindo em sono profundo
esperando um Morfeu que me acolha
me acolha, me acalente
fogem os braços,
despenco novamente
desespero ante as palavras
afundo nelas
Ulisses em cadeias
e apenas as palavras
eróticas, heroicas, obscenas,
sarcásticas, dramáticas...
aparecem aos montes, borrões em minha mente
mente insana, santa e profana
boêmia sem boemia
fauno entristecido
arcanjo desolado...
permaneço nelas
elas, fogem, correm, despencam, escapam
trini tando, quebrando
cristais despedaçados
a procura de um Morfeu sem braços...